Fala Pela Tua Alma, Sente O Que Amas: Poesia!
"poema...não são bibliotecas a arder de versos contados porque isso são bibliotecas a arder de versos contados e não é poema..."
quinta-feira, setembro 24, 2009
Vitória Cassiopeia - Nunca É Suficiente
Alan Marques - Carta Perdida
quinta-feira, setembro 17, 2009
Não
este instante passou por mim e eu nem o vi
Hugo Sousa
segunda-feira, janeiro 19, 2009
Outros Anos
que contam os dias no tempo
e os miseráveis fracassos
de cada um de vós
o nascimento deu-se
no nascimento de muita gente
mas o nascimento de que falo
devia ter sido muito atrás
ou muito à frente
hoje não me entendo
com tamanha leviandade
só não sou deste tempo,
que não apela à verdade
aquele foi o nosso último olhar,
aquele foi o nosso último tocar
19 Janeiro 2009
Hugo Sousa
terça-feira, maio 27, 2008
Os Sítios Por Onde Passámos
[por onde passámos.
Enquanto um de nós for vivo, os nomes não importam, os monumentos não importam, os jardins não importam. Existiam mesmo sem nós, no entanto, não teriam a beleza harmoniosa com que os vimos, com que os pisámos, com que os vivemos. Os sítios
[por onde passámos,
existem assim como os conhecemos por nos conhecermos, porque juntos e
[juntos estivémos,
porque vivos estamos. Porque estamos. Onde estamos? Onde quer que estejemos, estamos nos sítios onde estivémos. Enquanto um de nós não morrer, os sítios
[por onde passámos
continuarão a ser apenas os sítios por onde passámos: sem nome, sem Lisboa:
[sem sítio algum.
27 de Maio 2008
Hugo Sousa
terça-feira, maio 13, 2008
De Que É Feito Portugal?
o caminho de um passado
faz da vontade acreditar
sem perceber que o passado
não nos leva a nenhum lugar
oh Portugal inconsciente
de que é feito tua bravura?
saiu num ápice e voltou para o ventre
da espera nas ruas da amargura
escreveram sobre o Quinto Império,
Fernando Pessoa - o homem mistério -
tentou ver o que ninguém via;
ver que podiamos sonhar em alcançar
os objectivos entretanto esquecidos
e não sermos uma mentira.
dele sobram as memórias
em plenas marcas na história
e ainda podemos ler.
nós, pois, vivemos na sombra
de uma história passada na glória
que teima em não viver.
a Mensagem que nos deixou
d'Os Lusíadas quase levantou
uma prespectiva cheia de fé.
mas o Império nunca foi o Quinto
e D. Sebastião nunca chegou
em nenhuma manhã de nevoeiro.
nevoeiro é o que somos
na confusão do que queremos ser
a incerteza sem solução.
e que tal soltar a raiva
a velha glória esquecer e
uma nova erguer:
outro sentido para a nação.
13 de Maio 2008
Hugo Sousa
sexta-feira, março 14, 2008
Sem Nome
quinta-feira, março 06, 2008
Uma Certa Frieza
se com frieza actuei, é coisa sem controlo
tijolo a tijolo fui construindo o muro
que divide a simpatia do resto do mundo.
tijolo a tijolo é como quem diz;
sapatadas monstruosas que nada servem à pele
antes ao coração que me compõe o corpo
um parecer simpático próximo do morto.
06 de Março 2008
Hugo Sousa
quinta-feira, janeiro 31, 2008
Dói-lhe Os Dentes II
O cadáver transformou-se em pó, a poeira que o vento transporta para outros lugares. Ontem doia-lhe os dentes e, hoje, continua a mais chata das dores. E quando passar? Quem vai alimentar a dor?, perguntou um dos atentos com meia-idade. A dor alimentará a dor, e a dor alimentada pela dor alimentará a vida. Depois vem o amor e mais uma mão cheia de velhices, respondeu o atento mais velho antes de morrer.
Por enquanto só me dói os dentes. Da cidade sobrou o pó, do atento mais velho sobrou o cadáver e de mim vai sobrando dores de dentes. Ninguém quer tirar-me um pouco desta dor?
31 (a meio, como se fosse outro dia) de Janeiro 2008
Hugo Sousa
Dói-lhe Os Dentes
31 de Janeiro 2008
Hugo Sousa
sexta-feira, janeiro 11, 2008
Minha Mulher Morta (A Tendência Dos Três M's)
riscam-se nomes pela morte
ora vivem como desaparecem
os dias de alguma sorte
contam-se anos, alguns contam dias
aqui não existe hora marcada
como os filmes no cinema
quando chega é sempre inesperada e
deixa os vivos num bom dilema
o que tivemos para contar
afinal não foi muito, foi mesmo nada
morreu também com a mulher estendida
que pela morte foi arrastada
tornam-se inúteis as memórias fotografadas
o telefone toca e do outro lado não falas
se chamo o teu nome e tu não ouves
se te peço amor e não respondes
a qualquer hora pode chegar
que fosse esta a hora eu não esperava
agora estendida pela morte arrastada
procuro-me no teu eterno olhar
fechado
minha mulher morta:
mulher, morte a minha
minha morte, mulher:
Morte, mulher minha
11 de Janeiro 2008
Hugo Sousa
Somos Dois
dizes-me tu por palavras,
eu não vejo esse choro compulsivo
no cair do mundo, quando estou contigo.
como um Fado cantado por mulheres,
choras sempre onde quiseres
só não choras quando estás comigo.
raramente somos nós
neste tremor que nos sustem
repetidamente somos dois
na calmia que se espera depois.
deixa-me agarrar e entrar em ti
para que deixemos esta separação
dói-me muito viver assim
teres-me só às vezes, no coração.
11 de Janeiro 2008
Hugo Sousa
Nossa Própria Agressão
acordar de noite e respirar o cortante ar frio das manhãs
mergulhar no fumo adormecido do mundo
pelo roncar do meu carro avisado
somos o centro da insignificante tristeza do mundo
ignorando a guerra e a fome de outros sítios
- pondo isso de lado - somos a vivida depressão
os culpados da nossa própria agressão
já no trânsito caótico seguro a testa com a mão
os dias correm sempre na mesma direcção
o elevador daquele edíficio espera-me ansioso
como se eu fosse alimento essêncial
ele já sem forças e eu sem humor:
tumor benigno, tumor
somos o centro da insignificante tristeza do mundo
os culpados desde há muitas gerações
vivemos numa forte e pesada depressão
a nossa própria agressão
dentro do escritório entrego-me à monotonia
sentado na cadeira como um prisioneiro de Alcatraz
soltam-se pensamentos sobre a vida
"não sou dono de mim até à hora de saida".
11 de Janeiro 2008
Hugo Sousa
Atrás Da Porta Encostada
segundo a segundo
atrás da porta encostada.
sinto-lhe o cheiro com o vento,
a corrente de ar pela janela aberta provocada
o momento de nada, o vazio
atrás da porta encostada.
a solidão acompanha-o, espera
o toque da campainha que não existe e
acompanha todos os momentos que
espreitam atrás da porta encostada.
na casa sempre vazia:
a lareira por acender
a loiça por lavar
a cama por fazer
a planta morta por regar.
na casa sempre vazia
só a solidão pode morar,
a solidão e eu
com o momento vazio, atrás da porta encostada,
a espreitar.
11 de Janeiro 2008
Hugo Sousa
quinta-feira, janeiro 10, 2008
Tentativas
que sou apenas o alvo de ofensas
onde o amor não é mais que palavras.
as tentativas onde não consegues
ultrapassar o seu significado: tentativas.
sou aquele que te ajuda a iludir o amor
que não sentes.
não sou mais que uma tentativa.
10 de Janeiro 2007
Hugo Sousa
quarta-feira, janeiro 09, 2008
Tu Pediste-me
a loucura formalizada nas palavras
com o anseio de construir o castelo
que nos vai servir de casa.
assentemos nossos corações nas pedras
que sustêm os murais enlodados
pela vida adormecida enquanto noite:
eu e tu naquele quarto.
dou-te as palavras que me pediste
sem usares a tua requintada voz
escreveste no diário de um pensamento
essa tua vontade atroz e eu dei-te
as palavras que me pediste e
um coração entre as mãos:
o mundo só para ti
9 de Janeiro 2008
Hugo Sousa
sexta-feira, dezembro 28, 2007
Viagem Sem Fim
um barco de palavras foi o que consegui
para nos levar à verdade do mundo
temos pela frente um mar imenso
onde vos apresento o que penso
no meu coração moribundo
por outras terras vamos passar
com a vontade de navegar
entrelaçada nos sentimentos
por ilhas e continentes,
as palavras mordidas pelos dentes
espalhadas p'ra lá do cabo dos tormentos
com culturas que nos são estranhas
espremê-las até às entranhas e
enriquecer a nossa sabedoria
as comidas e os cotumes legais
pelas nossas peles morenas jamais
cairão em desuso e serão esquecidas
entra nesta viagem sem fim
um barco de poesia foi o que consegui
para nos levar à verdade do mundo
as palavras nunca antes ditas,
dúvidas na existência de belas rimas
atordoadas por um vazio profundo
entra nesta viagem sem fim
um barco de palavras foi o que consegui
para todos: para mim: para ti
entra nesta viagem sem fim
28 de Dezembro 2007
Hugo Sousa
sexta-feira, dezembro 21, 2007
Cães Da Fome No Choro
a chorar desgostos sobre a cama
com a pele nua, coberta de frio
um casal de cães vadios anuncia
a chegada de um cheiro desconhecido
seguem-lhe o rasto com dentes ansiosos
por carne com aroma nauseabundo
só ladram, não mordem mas
sinto-lhes a vontade no meu choro
a ganância dos dentes vaidosos
do estômago ausente pela carne
que não encontram nos escombros
da escura noite
21 de Dezembro 2007
Hugo Sousa
Mal Do Bicho Que Não Sai
do esconderijo calcado
pelos pés de quem vai
através do mundo desolado
as paredes daqueles encostos
com a cabeça descaída
os braços ligeiramente mortos
enquanto se pensa na vida
mal do bicho que não sai
do esconderijo coberto
pelo andar de quem pisa
terras quentes deste deserto
estão palavras magoadas
nas conversas que nos consomem
as ofensas abusadas
da mulher para o homem
mal do bicho que não sai
da toca funda escurecida
pela noite que nos chega
com tuas ofensas adormecia
21 de Dezembro 2007
Hugo Sousa
Existo, Não Existo
21 de Dezembro 2007
Hugo Sousa