o cáustico sol aquece as pegadas frias na areia, desenhos abstractos desdenham a bruta súbida da maré. o silêncio quebrado pelo sopro repentino do vento que abana os cabelos dos presentes: semi-nús e descalços. o mar azul vincado com espasmos de branco abomina a areia pesada que o sustem. as pessoas divertem-se ou fingem divertir-se. as crianças divertem-se mesmo. os montes petrificados vão ficando mais velhos, vão ruindo e em metamorfoses intemporais aglomeram-se aos inatendíveis grãos arenosos. o sol continua a aquecer. as crianças continuam na plena diversão. os corpos começam a ganhar tons avermelhados, sobressai um vermelho ainda mais forte aquando mergulhados na água impetuosamente fria. o sol não chega para aquecer o mar e o mar é o suficiente para acalmar a dor dos corpos a arder. no verão e com o acompanhar do dia, a solidão da praia é uma nulidade. na noite, apenas vagueiam sombras imaginadas na vasta beira-mar a morrer pelas presenças interesseiras do dia. quem não tem medo do tempo? quem não se sente sozinho?
27 Abril 2007
Hugo Sousa
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