quinta-feira, março 15, 2007

Só Porque Sim

Somos os seres mais fracos em andamento,
somos os seres mais vulneráveis em movimento.
Somos os seres mais dotados de inteligência,
somos os mais que tudo por negligência.
Não prestamos, gritem comigo:
Não prestamos.

o que interessa não conhecer o tamanho desta cidade?
só não desconheço este caminho que me leva à loucura
naquele quarto andar que à noite tolhe espasmos de senilidade.
nos corredores onde tropeço nada é estranho, apenas uma novidade:
morrer por ter morrido é o mais belo acto de ternura.

continua, continua a caminhar a caminho de casa hás-de lá chegar
não estás sozinho, tens a sombra à tua frente que te vai acompanhar.

caminho, caminho de olhos fechados, não preciso de os ter abertos,
já sei estes passos de cór como as minhas dores.
tenho as pernas com vida: tenho as pernas com vida,
vida própria, vida minha vida.
arranco os olhos: arranco os olhos para dentro de mim
com esta capa que os protege de ver o mundo.

fico cego e nada vejo. estou vazio por dentro,
até a ilusão e a quimera se foram,
agora fico eu e eu e o escuro e o medo.

estou farto, já nada faz sentido,
nada daquilo que digo me mantém satisfeito.
deixei de conseguir escrever sem influências,
sem música e textos de outros,
ainda eu dizia há umas linhas atrás
que sabia os passos de cór como as minhas dores.
mentiroso. ignóbil.
estou no caminho certo para ser religioso,
mais alguns adjectivos e sou um deles.

HUGO SOUSA
15 Março 2007

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