domingo, abril 10, 2005

À Noite

É na noite que a alma se torna, tinta que o papel recebe com amor o doce toque de uma esfera metálica. no céu nuvens de açucar ameacam a luz incadescente do sol escurece a lâmina cortante existente na noite. desprende-se dum olhar outro animal selvagem. os orificios da terra tapam-se com bolas de sabão que crescem nas águas desses rios. a luz avermelhada da paixão inunda o verde natural da natureza. gemidos lá longe. sobrevoam as estrelas seis lâmpadas de um avião que se aventura nas alturas de um fundo. parte de mim dorme dentro duma concha subterrada nas areias do mar. cada unha retirada de meus dedos infiltrar-se-à nas rochas da terra. pergunto quando crescerão flores em meu peito e logo de seguida surge a resposta: quando cresceres terás um jardim para cultivar terás todo o restolho para colher depois de teres sido trigo depois de teres secado nas chuvas da noite. por vezes acordo e mato a sede com tua sombra. desertifico meus dedos com o calor que uma planta humana emana. limpo o suor à toalha deslizante que faz de cortina numa banheira qualquer. o crescente do descrescente com a vida do sono e a morte do despertar. colho na manhã serena de um dia as silvas que foram alimentadas ao teu sabor. toca o despertador. àgua fria que um dia foi coberta pela escuridão num rio qualquer. podem-se rir de mim. o húmido das tuas palavras é solto na virgindade de um hímen seguro numa chapa distante das areias do ar. essas estradas cobertas de poeira por pneus que não sabem onde passaram. o sangue vermelho das pedras que um dia foram pontapeadas. a lâmina cortante do dia da noite da claridade da escuridão. a noite.
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fim
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HUGO SOUSA

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