quinta-feira, março 15, 2007

Bocados De Um Dia, Bocados De Vida

I

as palavras incham as aparências
e devastam o poder da televisão sobre nós.

não quero ser estampagens de revistas
com a vontade de alimentar os demais,
são rostos bravos o leito destas dicas e
jamais venderei o meu sangue como outros tais.


II

eu acreditava no passado
que no presente já não existe,
os prisioneiros de um coração morto
alimentam os seus dias com o que eu disse.
libertem-se,
libertem-se
ou não vêm mais vida
debaixo dos céus que nos limita?

o sangue é jovem e o tempo é cedo,
passaram milhares de anos
e o mundo não foi destruido.
envolve-te comigo, dá-me a mão
e cala o medo. o medo.
vivemos um tempo tardio para o medo,
o tempo é cedo.


III

chega de dinheiro, chega de caras pintadas,
estou farto que esta gente, pela beleza
seja dominada.


III e Meio

querem-nos levar para outro lugar,
onde todos podemos chegar.
quem nos mentiu ao dizer
que esta pele e este ser era especial?


Quase IV

o incesto é o desmancha prazeres
da virgindade há muito perdida.


III e Meio Novamente

vão-nos levar para outro lugar
e só sabemos que fica por baixo
deste escuro céu estrelado.


IV

chegámos ao grande ecrã
e eramos personagens.
estava calor e o anfiteatro
vivia quase vazio de pessoas.

começámos por caminhar escadas a baixo
e todo o silêncio começava a soar mais alto.
a apresentação foi feita
pela voz mais calada que já ouvimos:
"quem continua de pé,
rapidamente permaneça sentado.
vamos passar à amostragem de vidas
que nunca foram vividas, foram mentiras".

o som do movimento entrou-nos
na imaginação como uma semente
e fê-la crescer.
se crescer demais a cabeça rebenta,
não há tanto espaço para crescimentos
como nas nuvens onde o sol se esbate.

praias com problemas de isolamento,
a inserção social já chegou às coisas sem vida.


V

maço de cigarros
vives mais rápido do que eu.
acender um a um e fazer-te o funeral,
choras em cinzas bocados de ti
com um jeito sublime de te sacudir.
fazes parte de mim,
não te esquecerei.
o meu consumo nunca será esquecido.
e tu, consomes a vida ou
deixas que a vida te consuma?

caras de papel prontas a rasgarem
as facas afiadas que as cortam.

vidro-caraça, parte-te e espeta-me
bocados de mim, esboços em ti reflectidos,
um pouco demasiadamente baços.
estou incompleto, faltam-me esses bocados:
eu em fragmentos, em restos despedaçados:
eu em fragmentos em todos os lados.


VI

o hotel para lá do monte
dá vida à luz do sol por estar transpirado,
por estar molhado de sentir tantas vidas
mortas dentro dele. a morte nele.

toda a gente te ama, nova rapariga
toda a gente te ama, rapariga nova
és estranha na aldeia,
és a novidade em pessoa.

HUGO SOUSA
15 Março 2007

1 comentário:

Anónimo disse...

o tempo. respiro-te.
eu