sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Não Sou

minto encostado a esta parede do quarto
- porta fechada, aqui ninguém entra -
dentro de mim ninguém entra
e ficam sempre do outro lado da porta.
nesta parede ninguém toca, estou encostado
e ninguém toca na parede.
eu não toco na parede.
não peso nem força tenho para lhe tocar
e ela não me sente.
minto deitado na cama sobre tudo o que a cobre,
a flutuar ela não me sente,
não tenho peso nem força para marcar
a minha presença na cama, onde minto.
debaixo da mesa: minto às marcas de pés sujos que ficaram no chão
e minto às minhas marcas sujas, nos lábios,
que dois olhos deixaram - os olhos da tua boca -:
a sede, a fome e a mentira daquele beijo.
no tecto, minto com os olhos e com as palavras em ruínas,
eu em ruínas. eu em ruínas outra vez.
minto-me e o tecto a cair,
pedras a cairem sobre mim e
outra vez os gritos:
outra vez eu em ruínas.
eu em ruínas.

HUGO SOUSA
16 Fevereiro 2007

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