terça-feira, junho 08, 2004

Sem Nome

Um dia acordei com a sensação de que alguém me observava...não percebi o que era nem do que se tratava...mas sentia ali uma presença...cheguei mesmo a pensar ter visto um vulto...mas depois passou-me! Passei o resto das horas dum qualquer momento perdido no meio de Abril sem me preocupar com aquela estranha ilusão da manhã! Mas quando nessa noite bati à porta da terra dos sonhos e algo me fez recuar...um sobressalto assaltou-me o estômago e um vazio inundou-me a mente! O que era afinal aquilo que controlava ate os meus actos? E porque não era eu capaz de identificar aquele ser? A noite foi passada sem sonho e com aquele alguém junto a mim. O que seria afinal? Pensei que fosse algo temporário ou mesmo parte duma qualquer fantasia da minha mente e persegui o sono que me fugiu durante toda a noite! No dia seguinte acordo e aquela semi-presença ou semi-ausência permanecia e decidi dirigi-me a ela! E por mais estranho que pareça...não fugiu...ali ficou...e toquei-lhe e sentia! Era algo semelhante a um ser feminino ainda jovem que transparecia serenidade mas aquando do contacto...fui invadida por uma mistura de raiva e vinganças e loucura e nesse segundo tornamo-nos intimas! E passamos a andar sempre juntas...e cada dia que passava ela influenciava mais as minhas decisões...e as consequências passaram a ser melhores do que era habitual...e a vida passou a ter mais sol...e as laranjas passaram a estar mais suculentas...demais até para a época...e o mar a cada entrada absorvia-me de forma profundamente extrema...e a areia das dunas que eu revoltava com o corpo estava mais brilhante! A mão dela mais do que mão amiga havia-se tornado na mão salvadora! Porém nunca havíamos falado...nunca havíamos trocado uma palavra sequer...comunicávamos por gestos...por pequenas coisas em que eu sabia que ela estava a intervir! Até que um dia...num simples atravessar de estrada...numa confusão que durou escassos segundos...a mão dela não estava ali para me puxar....para me ajudar...para impedir que eu levasse com mais de duas toneladas em cima! E foi nesse dia que trocámos palavras...ela esperava-me do outro lado da rua...e eu sem poder tentava ao máximo alcança-la...mas não conseguia sair do mesmo sitio...e ela chamava-me cada vez com mais intensidade...e foi então que deslizou até mim muito calmamente...me pegou na mão e disse: "sou apenas a morte que te veio buscar!". E foi assim…numa manhã de Abril…que a vi pela primeira vez e numa tarde perdida no meio desse mesmo mês conheci-a realmente e fiquei ligada a ela para sempre...à morte!


Texto de: Margarida Rafael

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