terça-feira, maio 25, 2004

Ela E Ele, Assim (Parte IV)

.4
intacta, permanecia no sonho,
deitada sobre aquela cama que em tempos, enquanto vivia aquela mulher,
rangia com os movimentos bruscos dos corpos, e
caía uma vez por outra um parafuso de tanta velhice
que aquela cama já tinha.
não abria os olhos e, todo aquele painel,
vertiginoso, pálido e absorvente
continuava deitado sobre a cama, ela
que já não vivia, sonhava e dizia-se feliz, sem querer acordar.
não o sentia, não conseguia ler o que eu lhe escrevia,
nem conseguia perceber que as flores
murcham todo o ano, por vezes nem chegam a nascer,
não percebia que sempre que chove,
a recordo na horizontal, deitada a dormir,
relembro todos os momentos que a cama,
onde agora vive sem acordar,
fazia um ruido de raiva, sempre que
os corpos se movimentavam bruscamente.
ela ainda se acompanha, é a única companhia
que permanece dentro dela, mesmo sem acordar
toda aquela beleza que lhe conhecia,
vivia só dentro dela, e só para ela
agora que já não acorda,
e eu continuo a escrever-lhe.
-
-
HUGO SOUSA

Sem comentários: