quarta-feira, maio 26, 2004

Amo-te Poesia

Eu,
nasci aqui há tempos, num dia destes
vim para cá sem saber bem porquê
e ainda me lembro quando nem os olhos abria.
O tempo foi passando, a vida fui sentindo
e ao mesmo impasse fui crescendo.
Já não me lembro bem da idade
quando te conheci, forma mais bela de escrever
maneira mais solta de soltar, o dia em que te vi, Poesia.
Foi amor à primeira vista, o teu corpo seduziu-me
e dai para a frente apenas o quis explorar.
Alisei os teus cabelos Poesia,
eram como os acentos e as cedilhas das letras,
olhei-te bem nos olhos e vi uma imensidão
profunda e sentimental, capaz de rasgar
de alimentar o sangue com alma e
brotar um charme inqualificável.
Molhei minha boca na tua, Poesia
senti-me a crescer, a romper as nuvens,
subi tão alto e tão forte, tão infinito
que não consigo desprender-me do teu beijo.
Casei-me, juntei-me contigo
uni-me a ti na verdadeira essência do amor
e prometi, jurei e sorri,
juntos viajaremos, partiremos mundos e
molharemos com sol e lua essas terras habitadas.
Como foi lindo nosso casamento Poesia,
convidamos todas as letras, todas as palavras
e até as frases lá estavam
a compôr aquela bela plateia,
aquele livro que trarei comigo para sempre.
Fiz-te a ti de minha mulher
e como se já não bastasse
ainda tivemos um filho,
já não chegava ler-te esposa minha
tive que escrever também, eis o nosso filho.
Ficamos os três, eu ser humano, teu marido
tu minha esposa, Poesia, como te leio
e nosso filho, como escrevo.
Partimos na aventura, trouxeste-me a solidão
mas com ela, vieste tu meu amor, Poesia.
Quebramos telhados, subimos às árvores
ensaguentamos algumas estrelas,
refugiamo-nos á beira-mar.
Entraste em mim, penetraste-me, violaste-me
como todo o prazer do amor, da paixão
deixei que me fizesses tudo isso, Poesia.
Dispersas-me o sangue, desbravas minhas veias,
Preenches-me os braços e mexes minhas pernas.
-
E hoje, à beira da minha morte
amo-te como sempre te amei desde que te conheci,
desde que explorei teu corpo e que
fiz de ti minha mulher,
amo-te como te amei quando tivemos o nosso filho
e hoje parto, levo-te comigo mas deixo a nossa cria,
deixo toda a minha escrita e que bem que fica.
Poesia, olha bem o nosso filho nas folhas
pintado a cor de caneta, está-se a
tornar principe a cada dia que passa,
mas um dia ficará para sempre fechado
numa dessas gavetas da vida e do esquecimento.
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-
fim
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HUGO SOUSA

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