domingo, abril 01, 2007

As Parede Que Não Têm Ouvidos Mas Falam

a vontade é de explodir, verter
raiva e angústia que vem de dentro
e deixar ser com firmeza.
ser com intuição e verdade,
libertar a veracidade de uma existência
progredir no sentido oposto
das muitas mentiras,
ser com todas as forças.

encosto na parede, naquela pedra
para ouvir o que vem de dentro.
não, essa não emite sons,
olha em redor - exprimenta aquela
e sim, encosta o ouvido na pedra
da mesma parede mas noutra pedra,
encosta suavemente, encosta...

que escutas?

diz-me o que ouves com pressa, rápido;
é o tilintar de um copo vazio contra
outro copo vazio ou o murmúrio,
o murmúrio do silêncio?

medo, muito medo além do mural
p'ra lá da branca e gasta pedra
que esconde a fatal surpresa,
a indecisão semicerrada
no invisível desconhecido.
o medo, grande medo no ouvido
que nada consegue escutar
mas vive a aflição de um sussurro,
do som confuso que deite por terra
toda a curiosidade, o demais desejo
descido até à calçada com uma faca
incisivamente espetada no peito.

que som recebes?

toca com as mãos como num corpo,
encosta os lábios - quantas vezes
as coisas não se tornam audíveis
num toque de lábios - mergulha os olhos
no branco incandescente...por favor
não desistas, firma o corpo contra o corpo
mas não renuncies esta esperança.

que consegues ouvir?
- nada, não consigo ouvir nada.

vamos repetir vezes sem conta
até que consigas atender o pedido
vindo do outro lado da parede.


1 Abril 2007
Hugo Sousa

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