sexta-feira, março 30, 2007

Uma Noite Sozinho

estendo-me nas areias dos corpos em decomposição
pelas fotografias a preto e branco que
não transpiram palavras e só recordações
o lume a desejar pedaços para queimar
os ossos transformam-se numa areia mais fina
e sobrevoam duas sufocações na garganta
com o respirar pernoitado dentro da ânsia

definha-se o silêncio nocturno do sono e
ergo-me de um chão vazio já sem os grânulos
de vidas que secavam ao sol no dia.
cresceu um deserto no caminho agora ao calhas escolhido
esta noite torna os passos sem fim
não consegue dissipar a sede de calar
e amenizar o grito solto metro a metro

...o lume não cessou e arde instantaneamente
dentro dos olhos com a prontidão de
me tornar numa planície dentro de uma cidade
em chamas na próxima noite

está a fragmentar-se uma madrugada
de vida que sussurra e reclama
mil sucatas com corações de ferro


30 Março 2007
Hugo Sousa

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